quarta-feira, 22 de julho de 2009

Capítulo 1 - E se?!

Despertou!
Ainda deitado, modelou os seus passos...
Abriu seus olhos como se abrissem as cortinas para um teatro onírico.
- Ainda escuro, indagou.
- Devo ter apenas cochilado.
Levantou-se!
Com os dois pés no chão, arrastou-lhes como um fardo até à porta da Geladeira.
Um copo com água.
Agora, um beijo na pequena, e então, retornar-me-ei ao meu deleito.
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- Ué, não está na cama, murmurou o rapaz.
- Sapeca, deve estar deitada com a mãe. Normalmente quando tem pesadelos, a procura!
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Ninguém.
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Sem entender a situação, subiu as escadas de maneira fugaz à espera de encontrá-las na casa de seus pais.
- Tudo como se nunca alguém estivesse aqui, assustou-se sozinho.
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Respirou e tentou manter a calma.
Olhou seu relógio que, como se o tempo fosse outrora e não agora, estava parado.
- Quanto tempo dormi?
Procurou por um calendário mas os dias, magicamente, haviam desaparecidos.
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Isso é um sonho.
Tentou fechar e abrir os olhos!
Tudo era aquilo.
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Iniciou uma jornada pela rua de sua casa.
Tudo escuro e vazio.
Também pudera, pensou o guapo, devem ser altas da noite e, transeunte solitário aqui, somente eu!
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O vento gelado indicava ao menos a estação.
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Começou a caminhar mesmo sem saber o que ou onde procurar.
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- Quem procuras? Indagou um gato noturno.
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- Procuro àqueles que são meus, bichano.
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- Bichano? Chama-me de Gato. Sou o único de minha espécie então não há problemas em me intitular único.
- E tu, moço estranho, diga-me teu nome.
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- Eu me chamo José, mas ao que me parece, sou único também(com um sorriso tenso).
- Portanto, chama-me de Humano!
- Enfim, procuro àqueles que outrora dormiam, comiam, sorriam ao meu lado e que, no momento do despertar do meu sono, sumiram.
- São como eu, braços, cabelos, pernas, mãos...(...).
- Os viu por ai?

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- Não, caro amigo Humano.
- Não vejo ninguém senão a noite.
- Não sinto ninguém senão a fome, a ânsia e a coragem.
- Sou um Argonauta. Não me prendo a olhares ou raízes.
- Me prendo a vontades. Divaga o Gato.
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- Então, como hei de encotrar alguém se, aqueles que algures estavam no momento de meu sono, não sabem olhar algo diferente do seu egoísmo?
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- Como pode falar de egoísmo, pequeno grande Humano?
- Se estás aí, à procura, não é senão por vontade de satisfazer a tua pequena solidão?!
- Se é tua a solidão, como pode dizer que nega o seu egoísmo.
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José pôs-se a pensar.
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- Sim gato. Procuro, pois a estranheza da solidão assusta até os mais corajosos.
- Nunca sentiu-se assim!?
- És ferrenho de tal modo que, cura seu pesar olhando-se no espelho!?
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- Não meu caro. Eu não sei o que é solidão.
- Se se é sempre só, sente-se falta apenas do som do respirar.
- Se se é sempre só, torna-te teu!
- Torna-te teu deus, teu rei!
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- Sim, elevou-se o Humano.
- Mas como pode existir um rei se não há a quem comandar?
- Estaria disposto a gritar ordens a si mesmo e então, obedecê-las ou não!?!
- O que faria caso não concordasse com seu alterego!?
- Como pode ser rei sem povo para guerrear, cuidar ou matar?
- Tu és um rei de ar gato!
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O Gato sorriu astutamente e respondeu:
- Vocês humanos são engraçados.
- Em todos os instantes dizem partir, procurar nova vida, novos mundos.
- Desbravam os oceanos, o universo, a mente (...)
- Procuram motivos alheios para satisfazerem tua índole, mas criticam meu coração rijo, solitário e aventureiro.
Responda-me humano,
- E se, ao invés de você partir e deixar os outros, os outros partissem e deixassem de você?!
- Fisicamente não há de ser a mesma coisa?!
- Então, me explique o porquê desta solidão!
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........E agora José?

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